segunda-feira, 27 de setembro de 2010
É uma poesia.
Nota1: Não se pode confiar em pessoas que escrevem poemas.
Há uma garrafa lacrada ao mar.
Poesia é ensinar a mosca a deliberar seu subconsciente,
Da garrafa lacrada, sua transparência ao horizonte.
Existe um mundo, existe um horizonte.
Poesia é saciar-se com um suspiro.
Há uma rolha representando;
-Alívio, ninguém pode me tirar do meu mundo.
Suspenso ao mar, há uma garrafa.
Nota2: Preciso lembrar da nota 1.
domingo, 19 de setembro de 2010
Três Botões.
13 de março de 1994
Eu olhava a janela, era como o inverno, um frio de congelar os ossos, era verão, ventava-se muito lá fora. Árvores caiam, ouvia se muito sobre a crise Americana, Fernando Henrique Cardoso com promessas de acabar com a inflação, sobre o fim da agua potável no mundo. Nada disso me interessava.
Acreditem ou não, eu só queria estar ali olhando a chuva com aquele gosto amargo de café sem açúcar na boca, é como minha vida sempre foi, eu refletia: - é... Amarga –disse a mim mesmo. Meu tocador de disco está a tocar Chopin o Nocturno op.9 era o que faltava naquele momento para me afundar, me afogar, me puxar para baixo. Era isso o que eu desejava, ser puxado para baixo.
Podia descrever tudo aquilo que eu estava sentindo, aquele sentimento melancólico que me possuía – Coloquei meu cigarro na boca, era um prazer intimo tragar o cigarro no frio ali presente, e sentir aquele ar quente sair de meus pulmões expressando alivio.
Não era o bastante, quero sair. –Não sei se o desejo realmente é meu ou Chopin acelerando a musica. -Quero sair, -Quero sair –repito.
Estou a menos de três metros de casa, ainda chove, não queria ir para longe. Além disso, só sentir a chuva cair sobre minhas costas nuas, era o que meu intimo desejava. Foi então que abaixei na calçada imunda, cheia de lama.
Um cachorro com sarna me cheira, mas continuo ali imóvel, -É dizem que a chuva lava a alma – Hey, Jude, don't make it bad, take a sad sooong. Agora é Beatles que faz minha trilha sonora, vem do vizinho imagino.
-Sai dai moleque.
-Escutei porem, o ignoro ninguém vai tirar esse meu momento de vida, em que me sinto vivo.
-Não tá ouvindo moleque?! Sai, Sai!
-Hey, Jude don’t be afraid, you were made to go out and get he – A música continua.
Olho para trás, há um homem de terno de três botões de cor negra com uma gravata rosada. Ele insiste em me olhar. Três botões... Marco a lama com três bolinhas, três botões imagino. Nada vai me tirar dessa calçada - Repito a mim mesmo.
O homem tira o paletó e o coloca no chão e ao meu lado, ele senta. Sua blusa branca está encharcada e transparente, o observo pelo canto do olho, consigo ver seu corpo, vejo a água escorrendo sobre sua pele, seu rosto severo agora encharcado.
And anytime you feel the pain, hey, Jude, refrain – agora são dois, sentados numa calçada ouvindo beatles . Tinha uma coisa ali forte me chamando
-Você tem um cigarro? –pergunto.
Ninguém diz nada. E ali permanecemos, na chuva.
(...)
Sempre fui romântico. Sempre desejei viver uma historia de amor –penso- será que elas sempre me aparecem, e eu tive medo? Agora sento de costas a minha porta da frente, alongo meus pés, respiro baixinho e assustado.
Na na na na na na na na hey jude! (A musica aparenta estar acabando.)
terça-feira, 14 de setembro de 2010
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Sempre dentro de mim meu inimigo.
São meia noite e vinte.
Então eu olho a minha volta, minha cabeça está amparada no vidro. Na janela do ônibus, para ser preciso. Tudo passa diante meus olhos. Porém, eu desejo regredir, estagnar o mundo se for preciso. Eu penso na minha felicidade.
-Sua Melodia me faz ganhar forças, revigora, trás palpitações indesejadas - Começo a pensar.
-Melodia, melodia -Eu repito. Meu mp3 dessa vez programado a reproduzir músicas aleatórias, insiste em uma música em que, a mesma, já me dizia que nada iria dar certo.
-E você sabe o quanto te amo, o quanto preciso de você, me diz você sabe? (a música perde o instrumental) E suas palavras são tão cruéis comigo.
-Em contrapartida, você se importa? Se importa?
-Mas, eu mudaria por você –Eu disse a mim mesmo. A música ainda tocava - E meu coração batia lento, fiquei assim sentado, olhando em volta sem me mover; Respirava devagar, e só de pouco em pouco; ora ria baixinho lembrando-me, ora esfriava por dentro. Meu coração batia como uma confirmação. Apesar de: “O maior engano do ser humano é achar que somos capazes de mudar alguém” - A frase da minha Instrutora da Bradesco ecoou em meus pensamentos. –Mas eu mudaria para você.
-Eu mudaria por você –A música ainda tocava – E meu coração batia como uma confirmação. Só por você, só por você! -Havia momentos em que eu só prestava atenção na melodia, e outros apenas no que era dito, e consequentemente me fazia interagir. Você se arrepia?
-Eu sempre esperaria por você, eu consigo sentir isso tão claro.
Agora são meia noite e quarenta e sete.
(...)
Uma e seis da manha – Eu abaixaria a guarda se apenas “desculpa” fosse me dito, e iria te abraçar e mais nada precisaria ser dito.
“I'll always be waiting for you”
(A Carlos Drummond de Andrade, O enterrado vivo)